abril 24, 2011

Páscoa 2011 - nº. 60


AS ONDAS DO MAR

"Adorar a Deus em Espírito e Verdade” (João 4,23)

O evangelho de S. João, no capítulo 4, narra-nos o encontro e os ‘desencontros’ entre Jesus e a Samaritana. De facto, este encontro começou com o pedido típico de um peregrino: “dá-me de beber” e terminou, por parte da Samaritana, no esquecimento do cântaro, uma vez que Aquele que pediu água, revelou-se ser poço de água viva que sacia as sedes mais profundas do coração humano.

No decorrer do diálogo entre Jesus e a Samaritana, é posto em questão o local em que se deve Adorar e saciar a sede e a fome de verdade, autenticidade e felicidade. A Samaritana sente-se confusa porque quer ser fiel à tradição. Jesus convida-a a não parar, a não se acomodar, a não se cansar desnecessariamente com os indiscerníveis e pesados “cântaros” da tradição. Jesus convida-a a abrir-se ao novo, ao inesperado, Àquele já presente na vida daqueles que se abrem ao Espírito. Quando a Samaritana fala do Messias, Jesus identifica-se como O Esperado, a fim de lhe apontar o Pai, cuja adoração não se limita a um espaço físico, nem à tradição, nem mesmo às expectativas e modos como é “desenhada” a sua presença. Por outras palavras, com Jesus e a partir de Jesus, o Pai só pode ser adorado em Espírito e Verdade, e só assim pode ser encontrado na tradição, nos lugares simbólicos, na comunidade, nas igrejas, capelas e catedrais. Gostaríamos que fosse esta a nossa atitude, na relação com Deus.

Este domingo, o nosso Bispo D. Manuel Felício vai estar connosco para benzer a nova capelinha de Santo Inácio de Loiola. Gostaríamos que este fosse um espaço dedicado à oração, não para substituir a Igreja-mor, mas para a complementar. Desejaríamos que fosse um espaço privilegiado para vivermos celebrações em pequenos grupos, não grupos que se encerram em si próprios, mas sejam fermento na massa das grandes vivências comunitárias e litúrgicas. Esperamos que seja um espaço convidativo à oração pessoal, não para que ninguém se sinta no ‘quentinho’ da relação com Deus, mas antes, interpelado e ‘incomodado’ ao saber que tantas pessoas ainda não O conhecem e não foram por Ele tocadas. Em suma, cremos que o espaço da nova capelinha será um lugar de encontro segundo o Espírito que nos convida a adorar em Verdade. Gostaríamos que a nova capelinha fosse na vida de todos, ´o cantinho de Deus’ presente em todos os cantos, praças e estradas da vida.
Que Santo Inácio de Loiola, (patrono da capelinha), seduzido por Deus e empenhado com o mundo do seu tempo, nos interpele a desejar sempre mais e fazer melhor.

Que Nossa Senhora da Esperança, que nos trouxe o Esperado, nos acompanhe e inspire na relação com Aquele que ela mesma adorou e encontrou, em Espírito e Verdade.

Padre Francisco Rodrigues, s.j.

“Entra no teu quarto e reza a teu Pai no segredo”


Respondendo ao convite feito a jovens e menos jovens, pelo Pe. José Frazão, percorremos em quatro domingos consecutivos um itinerário de oração, com palavras e silêncios, com salmos e cânticos, com gestos, símbolos e sinais.

Iniciámos o percurso contemplando o quadro de Rembrandt, "O Regresso a Casa ". Impressionou-me o amor incondicional de Deus, retratado naquele Pai, que acolhe cheio de alegria o filho que se havia tresmalhado. Fiz, então, a experiência de sentir e de me abandonar no abraço do Pai.
O domingo seguinte conduziu-nos à adoração da Cruz, onde me juntei como discípulo, à Mãe e ao amigo, os únicos que tiveram força para ali ficar. Para eu poder regressar a casa, Jesus tomou sobre si as minhas dores e as minhas enfermidades.

Na adoração ao Santíssimo, trouxe à memória a Última Ceia e o desejo ardente de Jesus estar connosco até ao ponto de se fazer Pão. O Infinito num pedacinho de pão.
A minha pequenez impediu-me de alcançar tal mistério.
Pedi graça, acendendo uma vela.

Neste itinerário, à semelhança de S. João da Cruz, senti que ardia em todos os participantes o desejo de Estar com Deus. Por isso purificámos na água as mãos. E, com as mãos, toquei os olhos, os ouvidos, a boca e o peito.
E, deste modo, redescobri que o Pai que nos aguarda, já correu até nós, e com o Filho fez morada em nós pelo Espírito Santo.
Grande é este Mistério que em mim habita.
Vitor Santos

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