abril 05, 2010

Abril 2010 - nº. 56


Páscoa = Passagem

Todos nós, quando temos objectivos na vida, queremos atingi-los, isto é, queremos “passar”, passar para o lado a que nos propomos. Assim, onde quer que nos insiramos, tudo fazemos para passar: à fase seguinte, ao grau acima, à etapa posterior. Se assim é nas coisas ordinárias da vida, assim terá que ser necessariamente na atitude que temos na relação com Deus, em Igreja, e na comunidade a que pertencemos. Temos que passar e só passamos quando somos e fazemos tudo quanto de nós depende para confiarmos no que de nós não depende tanto. Mas quando sublinho a importância de ‘passar’ aparece a questão: passar de onde, para onde e com quem? Vejamos um exemplo concreto a partir da quadra litúrgica que estamos a viver; se cada um de nós viver a sério a Semana Santa que se avizinha, passa para dentro de Jesus: do Seu coração, sentimentos, estilo, atitudes, ternura, paixão; isto é, se cada um de nós, durante a Semana Maior, conseguir ter um conhecimento íntimo de Jesus que tudo faz para que cada um de nós tudo seja; se assim for, conseguirá perceber para que lado precisa de passar. Viver a Semana Maior intensamente, significa encontrarmo-nos na Vigília Pascal com as Promessas do baptismo e consequentemente reunirmo-nos no Domingo de Páscoa com Ele, ressuscitado em cada um de nós e para sempre.

Padre Francisco Rodrigues, s.j.

NOVIÇOS NA COVILHÃ - TESTEMUNHOS

Durante o tempo quaresmal é tradição na nossa paróquia demonstrar-mos hospitalidade ao acolher jovens que iniciam o noviciado na Companhia de Jesus. Vamos saber quem são estes jovens e conhecer o trabalho que desempenham. Assim sendo, e agradecendo a disponibilidade e simpatia genuína de um verdadeiro Jesuíta, recolhemos algumas informações junto dos noviços João Maria Raposo e João Alexandre, que responderam a algumas questões relacionadas com a sua vida e com a sua trajectória na Companhia de Jesus. Duas novas fontes de renovação, sabedoria e divertimento que nos acompanharão até à Páscoa.
A Leonor e o Rodrigo aceitaram este desafio de os entrevistar, vamos então conhecê-los um pouco.


Rodrigo: Quem és e de onde vens?
João: O meu nome é João Maria, tenho 29 anos e sou o mais novo de 7 irmãos. Até entrar na Companhia de Jesus, em Setembro de 2008, vivia em casa dos meus pais em Caxias (arredores de Lisboa). Pertencia a um grupo da Igreja, chamado Movimento ao Serviço da Vida (vejam: www.msv.pt) e essa passagem de 10 anos por lá marcou totalmente a minha maneira de ser na Igreja e no mundo. Foi no MSV que aprendi o que é estar próximo dos mais necessitados. Ah! E sou sportinguista, claro!!

R: Que fazias antes de entrares na Companhia de Jesus?
J: trabalhava na área de marketing on line numa instituição bancária.

R: Porque te deixaste fascinar por Jesus?
J: A minha relação com Jesus vem desde a infância, pois a família de onde venho é católica e procurou desde sempre dar uma formação alicerçada na Fé. Penso que o que o que mais me fascina em Jesus é saber que o Amor que tem por cada um é infinito e é independente do meu bom ou mau comportamento. Para Jesus não há razões para amar. Ele ama porque só sabe amar. É isto que me fascina!

R: Porque és noviço? Onde vives, porquê, e para quê?
J: De um modo genérico, os noviços são aqueles que estão na fase inicial da formação de uma Ordem ou Instituto religioso. No caso da Província Portuguesa da Companhia de Jesus, o noviciado é em Cernache (Coimbra), dura 2 anos e existe para nos preparar para sermos Jesuítas com raízes profundas na relação com Deus. Durante estes 2 anos, conhecemo-nos um pouco melhor a nós próprios e ficamos a conhecer por dentro a Companhia de Jesus. Passado este tempo pedimos, para fazer votos de Pobreza, Castidade e Obediência.
Cada noviço poderia dar uma resposta diferente sobre a sua experiência de noviço, porque cada pessoa tem uma história de vida diferente de qualquer outra. No entanto, sou noviço porque quero estar no lugar onde, com Deus, posso viver mais para os outros. E em certa altura da minha vida percebi que era na Companhia de Jesus esse lugar.

R: O que está sendo para ti, esta experiência na Paroquia de S. Pedro, Covilhã?
J: Como disse atrás, um dos objectivos do noviciado é conhecer melhor a Companhia de Jesus e é por isso que estamos aqui. Viver três semanas na Comunidade da Paróquia de São Pedro é uma óptima experiência para conhecer por dentro o trabalho dos Jesuítas na Covilhã. Há muitas coisas que só mais tarde vou perceber que aprendi aqui, mas por agora o que mais agradeço a Deus são as pessoas que trabalham comprometidamente nesta Paróquia. Fico verdadeiramente feliz pelo testemunho que os leigos transmitem com o empenho nas diferentes actividades da Paróquia. Era óptimo que fosse assim por todo o país.

R: Que tipo de sonhos tens para a Igreja da qual fazemos parte, presente e futuro?
J: Esta resposta está influenciada pela anterior, mas, assim, à 1ª vista, o que me apetece responder é que seria muito bom ter uma Igreja em que cada um pudesse viver a sua missão de leigo(a), consagrado(a), padre ou freira em perfeita comunhão.
No fundo, uma Igreja em que cada um tenha o seu papel e onde ninguém fique de fora. Mas sinceramente… acho que felizmente estamos a caminhar para aí.

R: Expressa uma das vivências, a que mais te tocou desde que entraste para a Companhia de Jesus.
J: A confiança que as pessoas já depositaram em mim. Nunca pensei que o facto de ser noviço fosse uma porta de entrada no mais íntimo das pessoas. Já tive oportunidade de acompanhar peregrinos, ser animador de Campo de Férias, etc e aquilo que mais me impressionou foram algumas conversas sobre as dores e alegrias que as pessoas vivem e que precisam apenas que alguém as ouça. E se eu for para os outros apoio para as horas mais difíceis, serei uma pessoa feliz!

R: Que mensagem gostarias de deixar à comunidade de S. Pedro, Covilhã, particularmente aos mais jovens?
J: Que façam com a vida que Deus lhes deu aquilo que for o melhor para os outros.

R: Quando deixares a paróquia de S. Pedro, na Covilhã, quais são os próximos passos/objectivos que irás realizar na tua caminhada na Companhia de Jesus?
J:
Daqui até Outubro, altura em que faremos os Votos, vai ser um tempo para rezar o que significa realmente entregarmo-nos a Deus em Pobreza, Castidade e Obediência. Pelo meio iremos a Barcelona fazer um curso sobre o Diário Espiritual de Santo Inácio, faremos a prova de peregrinação em pobreza, acompanharemos campos de férias e faremos Exercícios Espirituais de 7 dias (algo que aconselho vivamente a fazerem!).

R: Desejo em meu nome e interpretando o sentir dos nossos leitores, um futuro de serviço ao próximo, que no teu caso será um futuro feliz e útil. Agradeço-te também, a disponibilidade e tempo cedido para nos contares um pouco de ti mesmo e dos teus sonhos.
Bem Haja e até sempre, João!

Leonor e João Alexandre



Leonor – Boa tarde João, onde nasceste?
João –
Nasci no Porto, na Lapa. Em 28 de Outubro de 87. Tenho muitas saudades do Porto, saudades da minha família, das pessoas de quem gosto, tenho sempre saudades deles, mas ando sempre com eles no meu coração.

L-O que fazias antes de entrar para a Companhia de Jesus?
J- Estudei na Escola Artística Soares dos Reis, e depois na FBAUP (Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto). Pertencia a um grupo de Voluntariado chamado "Rabo de Peixe Sabe Sonhar", em Rabo de Peixe, uma vila em São Miguel, nos Açores, com os jesuítas, onde pintava, esculpia…

L- Foi difícil decidires entrar para a Companhia de Jesus? E a tua família como reagiu?
J- Não foi difícil, temos de nos deixar de egoísmos para ir ao encontro de Deus, e ficarmos em paz connosco. A minha família reagiu bem, embora custe sempre um bocado, como custa um filho sair de casa. Mas aceitou muito bem, a minha família é católica, e apoiou-me muito.

L- Que sonhos tens para a Igreja? Mudavas alguma coisa?
J- Gostava que a Igreja se sentisse cada vez mais Igreja, que tivesse sempre uma disposição nova, sempre renovada. É como uma plataforma em que todos os Homens estão ao mesmo nível. É como um barco que, no meio das confusões, é sempre o lugar onde quem chegue se sinta tranquilo.
Não mudava nada, primeiro mudava em mim, mudava com a ajuda da força do Espírito, pois acredito muito nessa força.

L- Achas que se os padres se pudessem casar, haveria mais padres?
J- A experiência de alguns países diz que não. Nos países do Oriente, as pessoas podem ser ordenadas se forem casadas; quem está nos seminários, e assim, antes de ser ordenado, casa-se e é ordenado. O que tem acontecido, é que não é por isso que há mais padres.
No nosso caso concreto, na Companhia de Jesus, mesmo que um dia a Igreja diga que os casados podem ser ordenados, os Jesuítas nunca iriam ser casados, porque fazem os votos de Pobreza, Castidade e Obediência. Eu não me quero casar, acredito que Deus me queira a viver como Jesus, à sua maneira. Não passa por ter uma família minha, um carro meu, uma casa minha, passa por viver de uma maneira diferente.

L- Estás na Paróquia de S. Pedro da Covilhã. Antes de chegares, estavas com expectativas? Ficaste surpreendido?
J- Não conhecia a Covilhã, nunca cá tinha vindo. Não tinha expectativas, fiquei surpreendido pela maneira como fomos recebidos, recebem-nos cá muito bem! Está a ser muito bom!

L- Desde que cá estás, aconteceu alguma situação engraçada?
J-
Aconteceram muitas situações engraçadas, mas a mais engraçada foi uma vez em que eu estava com o Pe. Sousa e ele estava a ver televisão, o noticiário. Depois muda de canal e nesse canal estavam a dar desenhos animados; o Padre Sousa disse-me que estava com pena por ter acabado o Noddy e o Franjinhas, pois gostava de os ver. Todos os dias, antes do jantar, costumava ver um bocadinho o Noddy e o Franjinhas. E isso foi muito engraçado, pois nunca imaginei que o Padre Sousa gostasse desse programa.

L- Um palavra para Jesus…
J- Muito boa pergunta, difícil… Eu acho que a melhor palavra será Irmão, alguém que nos acompanha sempre.

L- E finalmente, uma mensagem Pascal para o Mundo…
J- Uma mensagem para o Mundo… Nesta altura da Páscoa, em que Jesus ressuscitou, deveríamos dar-nos mais conta de que Ele ressuscitou em cada um de nós, ressuscitou no Outro que está ao nosso lado, Ele está vivo, Ele vive lá. E quando ouvirmos - agora vai acontecer muito isso - que Jesus ressuscitou, nunca nos podemos esquecer disso, que Ele está vivo nos nossos corações, em cada um de nós!

L- Obrigada, João!