dezembro 27, 2010

Dezembro 2010 - nº. 58

As Ondas do Mar

A Imaculada Conceição

Uma vez mais, a 8 de Dezembro, celebramos a Solenidade de Nossa Senhora da Conceição, Padroeira de Portugal. A Imaculada Conceição, Senhora do Advento, faz caminho connosco.
O termo Imaculada Conceição significa que a Bem-Aventurada Virgem Maria foi preservada e isenta de toda a mancha do pecado original, desde o primeiro instante da sua concepção. Foi preservada por uma graça singular e um privilégio de Deus, em virtude dos méritos de Cristo Jesus, Salvador do género humano. De Maria, humilde serva do Senhor, nasceu Jesus: “o Verbo fez-se carne e habitou entre nós” (Jo. 1,14). O privilégio de Maria aconteceu, porque ela foi chamada a ser a mãe do Redentor. Chamada, porque se deixou chamar. Escolhida, porque livremente se deixou escolher. Nos planos de Deus tudo acontece para bem se O amamos nas nossas histórias de cada dia.
Curiosamente, o dogma da Imaculada Conceição, antes de ser proclamado oficialmente pela Igreja, já era vivido pelo povo santo de Deus que sempre reconheceu em Maria o que Deus tinha operado nela. Maria, a Mãe de Jesus e nossa mãe, entrou na história de Deus connosco e entrou também na nossa história como nação, como povo. Sem Maria, a história de Portugal não teria sido a mesma.
De facto, nas cortes celebradas em Lisboa no ano de 1646, o rei D. João IV tomou a Virgem Nossa Senhora da Conceição por padroeira do Reino de Portugal. Ordenou o mesmo soberano que os estudantes na Universidade de Coimbra (nesse período, uma das poucas universidades de referência na Europa) antes de tomarem algum grau, jurassem defender a Imaculada Conceição da Mãe de Deus. Apesar de não ter sido D. João IV o primeiro monarca português a colocar o reino sob a protecção da Virgem, foi sem dúvida aquele que tornou permanente uma devoção, e que os nossos reis acolheram. Assim, foi pela provisão de 25 de Março do referido ano de 1646 que se mandou tomar por padroeira do reino Nossa Senhora da Conceição. Porém, o dogma da Imaculada Conceição foi definido mais tarde, pelo papa Pio IX, a 8 de Dezembro de 1854, pela bula Ineffabilis. A instituição da ordem militar de Nossa Senhora da Conceição por D. João VI sintetiza o culto que em Portugal sempre teve essa crença antes de ser dogma.
Estamos em pleno tempo de Advento, Maria tem nele um lugar privilegiado. Não só nos dá Jesus, como colabora activamente na obra da redenção da humanidade. Sendo Mãe de Cristo cabeça, ela é Mãe do Cristo total, de que nós somos parte: a Igreja que Deus quer santa e imaculada.
A liturgia que celebramos na festa da Imaculada torna presente a mesma força de graça do Espírito Santo que preservou Maria do pecado original e a levou a ser fiel à vontade de Deus até ao fim, até à cruz, até ao Cenáculo e ao início da primeira comunidade cristã. Somos chamados à santidade. Não podemos imitar Maria na pureza da sua Conceição. Mas podemos segui-la na fidelidade a Cristo, na sua condição de discípula, na sua peregrinação de fé. Precisamos de vocações decididas para o serviço simples e pobre do reino dos deserdados, dos pecadores, dos que não têm poder nem dinheiro, nem qualquer tipo de influência. Ao lado desses é que deve estar a igreja, deve estar cada um de nós, sem fugir a anunciar as bem-aventuranças aos ricos e poderosos deste mundo como fez Cristo, quando visitou Zaqueu, Mateus ou o fariseu rico. De facto, há tanta gente tão pobre que só tem coisas; e tanta gente tão rica que só de afecto e de um olhar sensível e acolhedor.
A Igreja não busca poder. E quando tem poder, é poderosa se o coloca ao serviço da sua missão. Por isso, a Igreja busca imitar o seu Redentor que, no Natal do Verbo de Deus, celebra a festa d'Aquele que sendo rico se fez pobre por nossa causa. O serviço da evangelização e o serviço ao mundo moderno há-de ser marcado por esta insígnia: quando sou fraco é que sou forte, quando me ponho ao lado dos mais pobres é que sirvo e amo a Cristo Senhor. Maria, a Senhora Imaculada Conceição, é o exemplo acabado da Serva que se põe ao serviço do seu Senhor: “faça-se em mim, segundo a tua Palavra” (Lc 1,38). Padre Francisco Rodrigues, s.j




A pobreza de Maria é vazio total de si mesma, para se encher de graça, para ser plenitude de Deus, para ser a Mãe de Deus e de todos os homens.





CORO DA CATEQUESE
DA IGREJA DE S. TIAGO

Motivado pelo Padre Francisco Rodrigues, o Coro da Catequese teve o privilégio de gravar um CD.
Graças à boa vontade e à disponibilidade de muitos outros, pôde dar-se rapidamente início a esta “viagem”. Foram alguns meses de bastante trabalho e dedicação por parte de todos os elementos do Coro, mas valeu a pena. Pois nesta gravação podem ouvir-se temas com alguma variedade de géneros.
Para este projecto foram essenciais as coordenadoras do coro, crianças e respectivas famílias. Assim a equipa conseguiu realizar um bom trabalho que deu muito prazer e gratificação a todos os envolvidos.
O lançamento que ocorreu no dia 26 de Novembro, na Igreja de S. Tiago, foi um momento apoteótico, viveu-se em família e com júbilo, num só instante, o trabalho de muitos momentos. Conseguiu-se com este projecto a realização de um sonho nunca ousado pensar.
O CD encontra-se disponível na Secretaria da nossa Comunidade Paroquial.

Ângela Calheiros

julho 31, 2010

Julho 2010 - nº. 57


Santo Inácio de Loyola

A 31 de Julho celebramos o dia de Santo Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus, ordem religiosa a que pertencem os padres jesuítas da Igreja de S. Tiago. Quem conhece a história deste grande homem e santo do século XVI, dificilmente ficará alheio ao legado que deixou à Igreja e ao mundo do seu tempo. De facto, Santo Inácio de Loyola, só porque permitiu que Deus o trabalhasse como barro nas mãos do oleiro, deixou um rico tesouro espiritual que nos nutre espiritualmente e marca o nosso modo próprio de ser Igreja. Por isso, celebrar Santo Inácio de Loyola não significa olhá-lo como relíquia do passado, mas, sim, reconhecê-lo no presente através da espiritualidade que nos legou, cujo carisma nos caracteriza e identidade nos define. Este modo de acolher e viver o Evangelho torna a espiritualidade inaciana sempre actual. De facto, em Inácio de Loyola foi notável o modo como descobriu Deus no meio de contratempos, sofrimentos e paradoxos da vida. Mais: Inácio de Loyola ficou para a história como o homem do Magis (mais). Mas ele, ao descobrir o Magis reconheceu-se como discípulo, ouvinte, disponível para aprender e fazer caminho. Sim, Inácio descobre-se pequenino, mas com os olhos fixos no Magis que o remete para Deus. Esta vivência espiritual só foi possível na medida em que ele descobriu e saboreou o essencial da vida. De facto, a espiritualidade que nos deixou está recheada de ‘essencial’. Face ao essencial, tudo passa: passam as pessoas, os tempos e as vontades, passam as culturas, as modas e as mentalidades, mas o carisma e a proposta espiritual de Inácio de Loyola não passa, porque radica no essencial e o essencial para santo Inácio consiste em encontrar e conhecer Jesus intimamente.
No termo deste ano pastoral, desejamos que tenha sido este o mote inspirador: conhecer internamente a Jesus em tudo o que fizemos, fomos, vivemos e construímos. Não pode haver outra motivação para tudo o que fomos e nos juntou como comunidade. Se assim não fosse, não falaríamos a mesma linguagem, não seriamos guiados pelo mesmo Espírito, não nos alimentaríamos da mesma mesa, a mesa da fracção do pão. Agradecemos a Deus o ano que vivemos, pedimos-Lhe perdão e uns aos outros por nem sempre sermos pessoas de fé. Agradecemos-Lhe o passado, reconhecemo-Lo no presente como ‘Presente’, e confiamos-Lhe o futuro; um futuro cheio de esperança, ânimo e desejo de construir. Desejamos e pedimos-Lhe que cada vez mais, Ele purifique as nossas motivações. Que a espiritualidade inaciana nos inspire a sermos mais fieis, mais simples e mais dóceis a Deus e à Igreja a que pertencemos. E que tudo seja AMDG (Ad Majorem Dei Gloriam - para maior glória de Deus).

Padre Francisco Rodrigues, s.j.
UMA VIDA
UMA PROCURA


Quando me foi pedido para escrever para o Mar da Galileia, pensei escrever sobre as Conferências de S. Vicente de Paulo para Jovens… Depois de começar a “rabiscar”, resolvi que deveria falar aos jovens do Jovem que criou as Conferências de S. Vicente de Paulo: António Frederico Ozanam. Se já conhecerem a vida deste grande homem do nosso tempo, nunca é demais relembrá-la, pois com a sua fé e profundo amor a Deus conseguiu que um dos seus sonhos se continue a concretizar. “GOSTARIA DE ENVOLVER O MUNDO INTEIRO NUMA REDE DE CARIDADE”. O que são as Conferências de S. Vicente de Paulo, senão uma rede de caridade pelo mundo inteiro?
Estamos já em 138 países, somos cerca de 50.000 Conferências e mais ou menos 900.000 Vicentinos.
Ozanam nasceu em Milão no dia 23 de Abril de 1813 e veio para Lyon em 1816 com os pais, onde passou a sua meninice. Os seus pais, que eram católicos, transmitiram-lhe valores cristãos que ele aprendeu e começou a viver intensamente. Aos 18 anos (1831), deixou Lyon e foi estudar para Paris, onde se doutorou em Direito com 23 anos e em Letras, tinha ele 26 . Aos 27 anos, depois de um exigente concurso, tornou-se professor universitário, filósofo, historiador, escritor, jornalista e investigador. Em todas estas áreas desempenhou na sociedade do seu tempo um papel importante e escreveu páginas de alta qualidade literária e científica. Mas ao chegar à Universidade, ficou chocado com o ambiente anti-clerical e anti-Igreja, que grassava tanto entre colegas como nos professores. Reagiu sempre fortemente aos ataques à Igreja, tendo marcado a sua posição de católico firme.
Tendo escrito aos 18 anos um artigo notável sobre a doutrina de Saint-Simon (filósofo francês), passou então a centrar os seus estudos em temas religiosos, com o propósito de demonstrar o papel relevante da Igreja na civilização humana.
Das várias polémicas que se criaram devido a publicações e conferências, ressaltava sempre a conhecida pergunta: “Sem dúvida que a Igreja católica tem tido uma acção relevante ao longo da história dos homens, mas hoje ONDE ESTÃO AS PROVAS DA VOSSA FÉ?... Ao que Ozanam respondeu por sugestão de alguns amigos e companheiros: “POIS VAMOS AOS POBRES, COMO NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, PREGAR JUNTO DELES O EVANGELHO”.
Ozanam concluiu que era preciso agir como Jesus Cristo que se tornou homem, foi ofendido, humilhado e torturado até à cruz, para que entendêssemos que é preciso amar e servir o próximo, como Ele Serviu e Amou.
Só através da oração, da justiça, da caridade, da igualdade e da fraternidade se pode provar o nosso amor a Deus e a nossa fé. Ozanam e os seus amigos estavam longe de se aperceberem da dimensão universal da mensagem gerada nas suas almas. Assim, foi criada a 1ª. Conferência em Abril de 1833, que logo Ozanam pôs sob a protecção de S. Vicente de Paulo (de quem tomou o nome) e da Virgem Maria.
Não teremos nós hoje de responder à mesma pergunta? Que resposta damos? Como estamos junto dos que mais sofrem de solidão? Porque estão desempregados, porque têm empregos precários? Porque são incompreendidos? Porque necessitam de bens essenciais? Porque são marginalizados?
Assim como iniciei, vou terminar, jovens! Abraçai esta causa.
Correia Saraiva



E o meu próximo quem é?






Visita do Provincial Padre Nuno Gonçalves à Comunidade Paroquial

19 a 22 de Junho

Serão musical

Mais uma vez, à semelhança do que acontece todos os anos, tivemos de novo, entre nós durante três dias, o Pe. Nuno Gonçalves, provincial dos jesuítas Portugueses. A essência deste grande encontro assentou na partilha de tudo o que fomos e vivemos durante este ano pastoral. As mudanças, as obras, as conquistas, as surpresas...Quisemos compartilhar e agradecer tanto bem que recebemos. E, porque a vida de uma comunidade também se faz de memórias e a memória guarda a história da nossa vida, aqui fica, como registo esta magnífica imagem, que representa alguns dos momentos vividos nesse fim de semana.
Sandra Soares

Jantar convivio

abril 05, 2010

Abril 2010 - nº. 56


Páscoa = Passagem

Todos nós, quando temos objectivos na vida, queremos atingi-los, isto é, queremos “passar”, passar para o lado a que nos propomos. Assim, onde quer que nos insiramos, tudo fazemos para passar: à fase seguinte, ao grau acima, à etapa posterior. Se assim é nas coisas ordinárias da vida, assim terá que ser necessariamente na atitude que temos na relação com Deus, em Igreja, e na comunidade a que pertencemos. Temos que passar e só passamos quando somos e fazemos tudo quanto de nós depende para confiarmos no que de nós não depende tanto. Mas quando sublinho a importância de ‘passar’ aparece a questão: passar de onde, para onde e com quem? Vejamos um exemplo concreto a partir da quadra litúrgica que estamos a viver; se cada um de nós viver a sério a Semana Santa que se avizinha, passa para dentro de Jesus: do Seu coração, sentimentos, estilo, atitudes, ternura, paixão; isto é, se cada um de nós, durante a Semana Maior, conseguir ter um conhecimento íntimo de Jesus que tudo faz para que cada um de nós tudo seja; se assim for, conseguirá perceber para que lado precisa de passar. Viver a Semana Maior intensamente, significa encontrarmo-nos na Vigília Pascal com as Promessas do baptismo e consequentemente reunirmo-nos no Domingo de Páscoa com Ele, ressuscitado em cada um de nós e para sempre.

Padre Francisco Rodrigues, s.j.

NOVIÇOS NA COVILHÃ - TESTEMUNHOS

Durante o tempo quaresmal é tradição na nossa paróquia demonstrar-mos hospitalidade ao acolher jovens que iniciam o noviciado na Companhia de Jesus. Vamos saber quem são estes jovens e conhecer o trabalho que desempenham. Assim sendo, e agradecendo a disponibilidade e simpatia genuína de um verdadeiro Jesuíta, recolhemos algumas informações junto dos noviços João Maria Raposo e João Alexandre, que responderam a algumas questões relacionadas com a sua vida e com a sua trajectória na Companhia de Jesus. Duas novas fontes de renovação, sabedoria e divertimento que nos acompanharão até à Páscoa.
A Leonor e o Rodrigo aceitaram este desafio de os entrevistar, vamos então conhecê-los um pouco.


Rodrigo: Quem és e de onde vens?
João: O meu nome é João Maria, tenho 29 anos e sou o mais novo de 7 irmãos. Até entrar na Companhia de Jesus, em Setembro de 2008, vivia em casa dos meus pais em Caxias (arredores de Lisboa). Pertencia a um grupo da Igreja, chamado Movimento ao Serviço da Vida (vejam: www.msv.pt) e essa passagem de 10 anos por lá marcou totalmente a minha maneira de ser na Igreja e no mundo. Foi no MSV que aprendi o que é estar próximo dos mais necessitados. Ah! E sou sportinguista, claro!!

R: Que fazias antes de entrares na Companhia de Jesus?
J: trabalhava na área de marketing on line numa instituição bancária.

R: Porque te deixaste fascinar por Jesus?
J: A minha relação com Jesus vem desde a infância, pois a família de onde venho é católica e procurou desde sempre dar uma formação alicerçada na Fé. Penso que o que o que mais me fascina em Jesus é saber que o Amor que tem por cada um é infinito e é independente do meu bom ou mau comportamento. Para Jesus não há razões para amar. Ele ama porque só sabe amar. É isto que me fascina!

R: Porque és noviço? Onde vives, porquê, e para quê?
J: De um modo genérico, os noviços são aqueles que estão na fase inicial da formação de uma Ordem ou Instituto religioso. No caso da Província Portuguesa da Companhia de Jesus, o noviciado é em Cernache (Coimbra), dura 2 anos e existe para nos preparar para sermos Jesuítas com raízes profundas na relação com Deus. Durante estes 2 anos, conhecemo-nos um pouco melhor a nós próprios e ficamos a conhecer por dentro a Companhia de Jesus. Passado este tempo pedimos, para fazer votos de Pobreza, Castidade e Obediência.
Cada noviço poderia dar uma resposta diferente sobre a sua experiência de noviço, porque cada pessoa tem uma história de vida diferente de qualquer outra. No entanto, sou noviço porque quero estar no lugar onde, com Deus, posso viver mais para os outros. E em certa altura da minha vida percebi que era na Companhia de Jesus esse lugar.

R: O que está sendo para ti, esta experiência na Paroquia de S. Pedro, Covilhã?
J: Como disse atrás, um dos objectivos do noviciado é conhecer melhor a Companhia de Jesus e é por isso que estamos aqui. Viver três semanas na Comunidade da Paróquia de São Pedro é uma óptima experiência para conhecer por dentro o trabalho dos Jesuítas na Covilhã. Há muitas coisas que só mais tarde vou perceber que aprendi aqui, mas por agora o que mais agradeço a Deus são as pessoas que trabalham comprometidamente nesta Paróquia. Fico verdadeiramente feliz pelo testemunho que os leigos transmitem com o empenho nas diferentes actividades da Paróquia. Era óptimo que fosse assim por todo o país.

R: Que tipo de sonhos tens para a Igreja da qual fazemos parte, presente e futuro?
J: Esta resposta está influenciada pela anterior, mas, assim, à 1ª vista, o que me apetece responder é que seria muito bom ter uma Igreja em que cada um pudesse viver a sua missão de leigo(a), consagrado(a), padre ou freira em perfeita comunhão.
No fundo, uma Igreja em que cada um tenha o seu papel e onde ninguém fique de fora. Mas sinceramente… acho que felizmente estamos a caminhar para aí.

R: Expressa uma das vivências, a que mais te tocou desde que entraste para a Companhia de Jesus.
J: A confiança que as pessoas já depositaram em mim. Nunca pensei que o facto de ser noviço fosse uma porta de entrada no mais íntimo das pessoas. Já tive oportunidade de acompanhar peregrinos, ser animador de Campo de Férias, etc e aquilo que mais me impressionou foram algumas conversas sobre as dores e alegrias que as pessoas vivem e que precisam apenas que alguém as ouça. E se eu for para os outros apoio para as horas mais difíceis, serei uma pessoa feliz!

R: Que mensagem gostarias de deixar à comunidade de S. Pedro, Covilhã, particularmente aos mais jovens?
J: Que façam com a vida que Deus lhes deu aquilo que for o melhor para os outros.

R: Quando deixares a paróquia de S. Pedro, na Covilhã, quais são os próximos passos/objectivos que irás realizar na tua caminhada na Companhia de Jesus?
J:
Daqui até Outubro, altura em que faremos os Votos, vai ser um tempo para rezar o que significa realmente entregarmo-nos a Deus em Pobreza, Castidade e Obediência. Pelo meio iremos a Barcelona fazer um curso sobre o Diário Espiritual de Santo Inácio, faremos a prova de peregrinação em pobreza, acompanharemos campos de férias e faremos Exercícios Espirituais de 7 dias (algo que aconselho vivamente a fazerem!).

R: Desejo em meu nome e interpretando o sentir dos nossos leitores, um futuro de serviço ao próximo, que no teu caso será um futuro feliz e útil. Agradeço-te também, a disponibilidade e tempo cedido para nos contares um pouco de ti mesmo e dos teus sonhos.
Bem Haja e até sempre, João!

Leonor e João Alexandre



Leonor – Boa tarde João, onde nasceste?
João –
Nasci no Porto, na Lapa. Em 28 de Outubro de 87. Tenho muitas saudades do Porto, saudades da minha família, das pessoas de quem gosto, tenho sempre saudades deles, mas ando sempre com eles no meu coração.

L-O que fazias antes de entrar para a Companhia de Jesus?
J- Estudei na Escola Artística Soares dos Reis, e depois na FBAUP (Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto). Pertencia a um grupo de Voluntariado chamado "Rabo de Peixe Sabe Sonhar", em Rabo de Peixe, uma vila em São Miguel, nos Açores, com os jesuítas, onde pintava, esculpia…

L- Foi difícil decidires entrar para a Companhia de Jesus? E a tua família como reagiu?
J- Não foi difícil, temos de nos deixar de egoísmos para ir ao encontro de Deus, e ficarmos em paz connosco. A minha família reagiu bem, embora custe sempre um bocado, como custa um filho sair de casa. Mas aceitou muito bem, a minha família é católica, e apoiou-me muito.

L- Que sonhos tens para a Igreja? Mudavas alguma coisa?
J- Gostava que a Igreja se sentisse cada vez mais Igreja, que tivesse sempre uma disposição nova, sempre renovada. É como uma plataforma em que todos os Homens estão ao mesmo nível. É como um barco que, no meio das confusões, é sempre o lugar onde quem chegue se sinta tranquilo.
Não mudava nada, primeiro mudava em mim, mudava com a ajuda da força do Espírito, pois acredito muito nessa força.

L- Achas que se os padres se pudessem casar, haveria mais padres?
J- A experiência de alguns países diz que não. Nos países do Oriente, as pessoas podem ser ordenadas se forem casadas; quem está nos seminários, e assim, antes de ser ordenado, casa-se e é ordenado. O que tem acontecido, é que não é por isso que há mais padres.
No nosso caso concreto, na Companhia de Jesus, mesmo que um dia a Igreja diga que os casados podem ser ordenados, os Jesuítas nunca iriam ser casados, porque fazem os votos de Pobreza, Castidade e Obediência. Eu não me quero casar, acredito que Deus me queira a viver como Jesus, à sua maneira. Não passa por ter uma família minha, um carro meu, uma casa minha, passa por viver de uma maneira diferente.

L- Estás na Paróquia de S. Pedro da Covilhã. Antes de chegares, estavas com expectativas? Ficaste surpreendido?
J- Não conhecia a Covilhã, nunca cá tinha vindo. Não tinha expectativas, fiquei surpreendido pela maneira como fomos recebidos, recebem-nos cá muito bem! Está a ser muito bom!

L- Desde que cá estás, aconteceu alguma situação engraçada?
J-
Aconteceram muitas situações engraçadas, mas a mais engraçada foi uma vez em que eu estava com o Pe. Sousa e ele estava a ver televisão, o noticiário. Depois muda de canal e nesse canal estavam a dar desenhos animados; o Padre Sousa disse-me que estava com pena por ter acabado o Noddy e o Franjinhas, pois gostava de os ver. Todos os dias, antes do jantar, costumava ver um bocadinho o Noddy e o Franjinhas. E isso foi muito engraçado, pois nunca imaginei que o Padre Sousa gostasse desse programa.

L- Um palavra para Jesus…
J- Muito boa pergunta, difícil… Eu acho que a melhor palavra será Irmão, alguém que nos acompanha sempre.

L- E finalmente, uma mensagem Pascal para o Mundo…
J- Uma mensagem para o Mundo… Nesta altura da Páscoa, em que Jesus ressuscitou, deveríamos dar-nos mais conta de que Ele ressuscitou em cada um de nós, ressuscitou no Outro que está ao nosso lado, Ele está vivo, Ele vive lá. E quando ouvirmos - agora vai acontecer muito isso - que Jesus ressuscitou, nunca nos podemos esquecer disso, que Ele está vivo nos nossos corações, em cada um de nós!

L- Obrigada, João!

fevereiro 28, 2010

Fevereiro 2010 - nº. 55


Quaresma: tempo das Novas Oportunidades

Nos últimos tempos, tem-se falado muito das “Novas Oportunidades”. Trata-se de oportunidades tipo “promoções” que surgem de tempos a tempos e estão ao alcance de um clic, de um cartão, ou de um simples sim, porque sim. Para corresponder a este tipo de oportunidades, nunca é tarde. Se passam ao lado, num dado momento, não tardará que nova publicidade apareça, e então mais uma vez o slogan: novas oportunidades. Isto, porquê? Porque é assim que o sistema social, económico e político funciona; vantajoso para quem recebe, imprescindível para aqueles que dele dependem e querem fazê-lo funcionar.
Porém, ainda que sob diversas expressões, as verdadeiras novas oportunidades não são necessariamente novas, são de sempre, de todos os tempos. Deus, revelado em Jesus, é Senhor de todas as oportunidades. Ele não sonha com outra coisa que não seja dar e dar-se como oportunidade ao alcance, acessível.
Como Ele, cada um de nós pode ser e dar-se como oportunidade: oportunidade com fundamento, credibilidade, sentido. A sorte, em si, não existe a não ser na medida em que a aproveitamos, por ela lutamos e dela se tira partido. Buscar e aproveitar as múltiplas oportunidades que à luz de Deus somos chamados a viver e a ser uns para os outros, eis o desafio da sorte. No fundo, a sorte acontece com quem está atento, não desperdiça o tempo, as qualidades, os talentos, as oportunidades de cada instante. A vida é de graça (oportunidade) vivê-la pela Graça e em Graça (aproveitar a oportunidade) é expressão de sabedoria.
Deus, Senhor de todas as oportunidades, interage assim connosco. Não alimenta nem é cúmplice das nossas mediocridades no deixa andar, mas está sempre na expectativa de que podemos dar o salto. Quando assim é, a cadeia das Nova Oportunidades nunca cessa. Para cada necessidade vital… aparece sempre uma nova oportunidade.
É sabido e reconhecido que grande parte dos católicos não conhece os fundamentos essenciais da sua fé cristã. A Igreja, através da sua organização e vivência em comunidades, procura proporcionar momentos de encontro, de formação, de crescimento e compreensão da fé. É pena que, não obstante o esforço feito, cursos propostos, conferências organizadas, nem sempre haja a correspondência na participação face às necessidades sentidas. É pena e é uma responsabilidade da parte de quem se fica pelo mínimo. É pena, até porque muitos reconhecem não estar devidamente esclarecidos nas verdades da fé, e é grave pela oportunidade de formação que deixa escapar. Inclusivamente, membros da nossa comunidade, activamente comprometidos em grupos de fé, reconhecem a necessidade de aprofundar as razões da fé que testemunham, mas descuidam-se em pôr os meios ou a aproveitarem as oportunidades propostas. Os sacramentos são essenciais, mas não basta andarmos “sacramentados”, necessitamos de conhecer Aquele que amamos e celebramos através dos sacramentos, particularmente em cada domingo.
Estamos no início da Quaresma de 2010. Não é mais uma Quaresma. É única. É o tempo favorável em que abunda a Graça. É uma Nova Oportunidade. Quem sabe se não é a oportunidade da tua vida, da minha vida, da nossa vida! Nesta Quaresma, não vão faltar propostas para celebrar a fé, para aprofundar as razões da nossa esperança, e para viver a vocação a que somos chamados. Quaisquer que sejam as actividades que serão propostas, não se destinam a encher calendários mas a responder à realidade concreta da nossa comunidade. Não te fiques pelo mínimo. O mínimo não faz bem, porque o bem não cabe no mínimo.
Desejo a todos uma Santa e frutuosa Quaresma.
Padre Francisco Rodrigues, sj

TESTEMUNHO
Alegre, disponível e colaborante, temos entre nós desde de Janeiro, vindo do Brasil, o Irmão Jesuíta Eudson Ramos.
A nossa comunidade paroquial recebeu-o e acolheu-o com a sua habitual ternura, procurando fazer com que ele se sinta bem integrado e activo… e assim vamos sentindo dia a dia como o pulsar do seu empenho, da sua boa disposição e da sua fé tocam os diversos grupos e movimentos.
Na catequese, adapta-se e colabora, de forma particular com os mais pequeninos, ainda a desabrochar para o conhecimento e amor de Deus. No grupo de jovens e na CVX recebemos a partilha da sua vida, da sua experiência, da sua alegria, fazendo-nos sentir “que temos mais um de nós… entre nós”. Nos outros movimentos e grupos da paróquia, procura ser presença que se integra e ajuda. De todos se faz próximo e amigo. Estamos contentes por o poder receber e contar com a sua presença e ajuda até ao dia de Páscoa!
Pedimos-lhe para nos falar um pouco mais da sua vida e da sua vocação… Aqui deixamos o seu testemunho.
(Redacção MG)

Um chamado pró-Vocação

Na minha história vocacional, encontro vários momentos significativos e os considero como sinais da vontade de Deus, mas as atividades pastorais que realizava em minha comunidade paroquial durante a minha adolescência e juventude foram decisivas para meu discernimento vocacional.
Nasci numa família de práticas religiosas e o testemunho de meus pais sempre me motivou no serviço e dedicação aos demais e, por isso, a participação em atividades como catequese, grupos jovens, animação litúrgica em comunidades rurais foram delineando o que mais tarde me levou à vida religiosa.
Em minha paróquia de origem tínhamos sempre muitos encontros e o envolvimento dos jovens era muito participativo. Eu tinha uma vida “normal” como qualquer jovem de minha idade: estudos, trabalho (era professor de braille para pessoas portadoras de deficiência visual) e gostava muito de festas (como quase todo brasileiro!). Digamos que tudo começou a ficar um pouco diferente quando chegaram as Irmãs Doroteias em minha cidade. Iniciámos várias atividades com adolescentes e jovens em conjunto e o contato com a vida comunitária, espiritualidade e “jeito” com que as Irmãs transmitiam sua consagração foram sendo os alicerces de minha vocação.
Como nunca me senti chamado ao sacerdócio, descobri que poderia consagrar minha vida na Companhia de Jesus sendo Irmão Jesuíta. Deus “preparou” todos os caminhos e me orientou durante todo esse processo vocacional, colocando pessoas queridas em meu caminho e abrindo “portas e janelas”. Entrei no Noviciado da Companhia no ano de 1995 e ao final de dois anos fiz meus votos como Irmão religioso. Sou formado em Administração de Empresas (Gestão de Recursos Humanos), fiz disciplinas introdutórias de Filosofia e a graduação em Teologia. Sendo Irmão jesuíta, tenho trabalhado como promotor de vocações (em níveis provincial, nacional e latino-americano) e como administrador de um colégio.
Atualmente estou na acolhedora cidade da Covilhã como parte da programação de minha Terceira Provação (última etapa da formação dos jesuítas) que está sendo realizada em Dublin, Irlanda. Aqui tenho-me dedicado a colaborar com os diferentes grupos e movimentos pastorais que atuam em nossa paróquia.
Sinto-me muito feliz com a vocação que abracei, pois sei que por meio dela, Deus se faz presente em minha vida e me permite expressar minha alegria para com aqueles (as) com quem convivo. É muito bom ser Irmão jesuíta!

Eudson Ramos
Irmão Jesuíta brasileiro